Direto da Campus Party 2011 - Debate "Eleições na web"

Logo após a oficina de Otimização de Wordpress, houve, sem dúvida, o melhor debate que assisti aqui na CP. Talvez não somente pelas informações debatidas, mas pelo confronto acalorado (e algumas vezes até divertido) entre os convidados para o painel. O debate contou com os coordenadores de campanha na internet dos principais candidatos à presidência das eleições 2010, Soninha Francine (José Serra), Marcelo Branco (Dilma Rousseff), Caio Túlio Costa (Marina Silva), além de Fernando Barreto, sócio-diretor da empresa WebCitizen e um dos criadores do Votenaweb.


As eleições de 2010 no Brasil foi a primeira a poder utilizar os canais de comunicação na internet de forma tão abrangente, portanto, muitas coisas não funcionaram como o previsto, enquanto que outras tiveram um resultado muito positivo. Ainda que a maioria tenha tido como inspiração, direta ou indireta, a campanha de Barack Obama no ano de 2008, nenhuma campanha cobriu as redes sociais da mesma forma e com a mesma eficiência.

Sobre a campanha de Dilma, Marcelo Branco relatou que a intenção foi utilizar a internet para mobilizar a campanha offline e retomar o papel de militância, possibilitar o engajamento. Para isso, a campanha deu possibilidade de cobertura colaborativa, uma vez que não contava com o apoio dos grandes veículos de imprensa, e também monitoravam em tempo real as redes sociais em que a campanha estava inserida. Um dos problemas apontados por Branco foi o fato de não ter uma coordenação de comunicação na campanha.

Soninha relatou, sobre a campanha do Serra, a respeito da presença do famigerado indiano radicado em New York que auxiliou a coordenação de mídias sociais durante algum tempo e trouxe uma visão diferenciada. A princípio a equipe não confiava muito nas instruções dele, pois acreditavam que certas estratégias não iriam funcionar no Brasil, mas que, no final, deram certo e, concluiu que "o olhar de fora ajuda a gente a olhar as coisas de outra maneira". Ela também comentou sobre a mensuração do grau de engajamento nas campanhas, não somente medir o sentimento na rede, baseando-se na construção de um relacionamento com os eleitores e militantes. Também revelou que pode perceber mais a presença das minorias de audiência da internet do que a audiência convencional, ou seja, pessoas idosas ou de locais com acesso mais restrito à internet estavam se manifestando também dentro das redes sociais em apoio ao candidato.

A campanha  da Marina Silva, sob coordenação do Caio Túlio, foi uma das mais bem sucedidas a meu ver. E, inclusive os outros participantes consideraram que isto foi devido ao fato de Marina já possuir uma causa bem definida. Caio relatou que o sistema de doação para a campanha da Marina foi bem sucedido pois era fácil de usar, em contrapartida ao da campanha de Dilma. Ele também revelou que foi preciso saber como se comunicar com cada canal da internet, pois cada serviço tinha uma audiência específica, então, no Orkut, Marina falava mais para o público evangélico, no Facebook falava com as mulheres e a classe mais elitista e os intelectuais, no Twitter falava com com os jovens e a vanguarda da internet. Caio comentou que durante toda a eleição foi feita uma campanha responsável e transparente, respondendo a todos os e-mails que chegavam e que o preparo da equipe foi fundamental para evitar as trollagens na rede. E mostrou que a audiência da Marina na internet casa com a porcentagem de votos, ou seja, não é uma exatamente uma comprovação, mas podemos inferir que sem os canais de redes sociais não haveria segundo turno e a Marina não teria uma votação tão expressiva.

Entretanto, os participantes discutiram que faltou envolver os eleitores mais na discussão política do que na militância. Um dos pontos de maior divergência entre os participantes do debate foi sobre as mídias convencionais vs. as novas mídias e, nesse momento, Soninha Francine teve seus argumentos contestados com frequência pelos outros participantes e ela acabou se alterando um pouco (confesso que isso foi engraçado). O ponto mais importante desta discussão: as mídias convencionais não tem mais o mesmo eixo de comunicação e, na internet, a plataforma do público e dos editores é a mesma, há uma igualdade do poder de comunicação entre a imprensa e o público por utilizarem as mesma ferramentas.

Por fim, fica o seguinte recado: a internet ainda é uma nova forma de comunicação que todos estão aprendendo a lidar. Muitos tentam dar pitaco como especialistas em mídias sociais a respeito de campanhas na internet, mas ainda há muito pragmatismo e muitas estratégias são capazes de ser mensuradas e tendo seu impacto analisado somente depois de utilizadas na prática.

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